Tudo isto é Fado

segunda-feira, novembro 07, 2005

Bem prega Frei Sócrates

E-mail enviado em 7 de Nove,bro de 2005
"No momento em que eliminam vários direitos adquiridos, em nome da sustentabilidade das contas do país e da equidade de direitos no funcionalismo público, José Sócrates e o PS alargam até 2009 o generoso regime de privilégios de autarcas e deputados. Pior: fazem-no à socapa, com enganosos artifícios por baixo da mesa, e tentando passar a ideia de que estão a fazer o contrário, a moralizar o alargado esquema de regalias da classe política.
Atente-se nos passos desta artimanha processual e política. Antes de impor os generalizados sacrifícios e cortes à função pública, José Sócrates anunciou e garantiu que, como exemplo, os políticos seriam os primeiros a prescindir dos seus regimes de privilégios injustificados. Para isso, e porque «os sacrifícios teriam de ser distribuídos por todos» como humildemente assegurou Sócrates, iria ser revista a lei das subvenções dos políticos. Uma lei que, há mais de duas décadas, permite que seja contado a dobrar o tempo em funções dos políticos para efeitos de reforma, que lhes seja atribuído um invejável subsídio de reintegração ou que se reformem antecipadamente muito antes dos 65, dos 60 ou até dos 50 anos.
O fim destes privilégios iria abranger, de imediato, mais de um milhar de autarcas (presidentes de câmara e vereadores executivos) e algumas dezenas de deputados, entre outros políticos. A nova lei entrou mesmo no Parlamento a 16 de Junho e foi votada e aprovada a 28 de Julho. Faltava apenas a votação final global que, face ao crescente clamor de protesto dos aparelhos partidários, o Parlamento meteu na gaveta e deixou para depois das férias.
Começava a perceber-se que a nova lei só iria entrar em vigor depois das eleições de 9 de Outubro, por pressões de autarcas de todos os quadrantes e das estruturas partidárias. Na verdade, para um autarca que tivesse terminado o seu primeiro mandato e agora se recandidatava, a entrada em vigor da nova lei implicaria que no final de 2009 apenas contasse 8 anos, de dois mandatos, para a sua reforma. Se a lei não entrasse em vigor (e como estipula que, a partir dos 6 anos em funções, a contagem é feita a dobrar), esse mesmo autarca chegaria a 2009 contabilizando 16 anos para a sua reforma. E muitos deles, deputados e autarcas, poderiam mesmo continuar a usufruir até 2009 do privilegiado sistema de reformas antecipadas. Percebia-se a inquietação.
Quando o Parlamento reabriu, a 15 de Setembro, Sócrates fez questão que a aprovação final da nova lei fosse votada de imediato, para afastar dúvidas e suspeições. E foi. Só que, em vez de seguir para promulgação em Belém, ficou a aboborar nos gabinetes do Parlamento e na secretária do socialista Osvaldo Castro. Só foi enviada a Jorge Sampaio a 4 de Outubro e contendo uma disposição que estipula que «a presente lei entra em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao da sua publicação». Ou seja, estava garantido que os autarcas reeleitos a 9 de Outubro podiam dormir descansados. A nova lei só teria efeitos a partir de 1 de Novembro. Os vinte dias que o Parlamento e o PS retiveram a lei, antes de a enviar para a Presidência, tinham sido cirurgicamente providenciais.
Sampaio promulgou a lei com rapidez, em dois dias, e enviou-a para publicação em «Diário da República», onde viu a luz do dia na manhã seguinte às eleições autárquicas. Mas já era tarde para ter efeitos imediatos. Ainda assim e porque as leis entram em vigor cinco dias após a sua publicação (não fosse a disposição que, neste caso, remete para 1 de Novembro), muitos autarcas recearam que ela passasse a vigorar logo no dia 15 de Outubro. E à cautela, num movimento inédito logo na primeira semana pós-eleições, muitos foram os concelhos e os autarcas que se apressaram a antecipar as tomadas de posse. Não fosse o diabo tecê-las.
Em conclusão. No momento em que restringem privilégios a vários sectores do funcionalismo público, em que extinguem subsistemas de saúde mais favoráveis, em que aumentam a idade para efeito de reforma, em que congelam salários e progressões nas carreiras - nesse mesmo momento, José Sócrates e o PS permitem que as regalias e regimes especiais da classe política se prolonguem até 2009 e abranjam mais umas larguíssimas centenas de políticos no activo.
Com que cara e com que moralidade podem o primeiro-ministro, o PS e os deputados em geral (cúmplices nesta artimanha processual em proveito próprio) encarar os juízes e magistrados em greve? Ou exigir que a generalidade dos funcionários públicos compreenda as dificuldades e aceite os sacrifícios? Não sobrará, no meio de tudo isto, um mínimo de vergonha? "

domingo, novembro 06, 2005

Um voto por um rebuçado

Estes não têm sido dias lindos, cheios de sol e de esperança. Têm sido dias tristes atados ao passado, um passado que criou vazio, mas deixou dor e também muitos ensinamentos.
De repente, como por magia, quero sair dessa bruma cinzenta que me invade e com a qual não sou capaz de viver, por isso fujo para o calor do sol, o romantismo da lua, a anestesia dos doces, a beleza da natureza. E como eu tenho sorte em viver num local tão bonito! Como é belo o mar, o espelho de água calma da ria ou simplesmente os pássaros no seu vai e vem constante? Tenho de agradecer por tudo isto, sorrir pelo simples sorriso que alguém, quem nem me conhece é capaz de me oferecer.
Hoje o sol brilha e tenho vontade de sair, saltar, redopiar, viver, sentir calor e alegria. É como se a hibernação tivesse terminado e a partir de agora só coisas boas me pudessem acontecer.
Numa aula os alunos em polvorosa diziam-me que tinam um sudelegado novo. Um deles, o mais excitado de todos dizia: - Professora, sou eu! Eles votaram em mim. Eu prometi um rebuçado a quem votasse emm mim e assim ganhei a eleição.
Fiquei estupefacta! Não podia estar a ouvir de pirralhos o que estava a ouvir. Fiz então um sermão:- Meninos, isso é muito feio! Vocês devem eleger quem tem mais capacidade para vos representar. Que ideia foi essa de receberem um rebuçado se votassem no Diogo? Será que os vossos votos estavam à venda? É muito mal feito, não posso deixar de lamentar que tenham feito assim uma eleição, que é tão importante para a turma.
Bom face às minhas palavras o Diogo com ar de quem foi apanhado em flagrante delito só disse:- Mas eu já paguei! Eu dei o rebuçado, como prometi!
Quem quiser que tire conclusões. Eu ri-me, para não chorar, pois não há dúvida que o Valentim Loureiro tem uma influência danada neste país, a avaliar pela imitação destes pequenotes.

terça-feira, novembro 01, 2005

A todas as meninas para sempre trristes...

Da janela do meu quarto olho o céu. Milhões de estrelas brilham por sobre mim. Procuro-te entre essas estrelas. Todas elas com um nome que lhes dei: Bruno, Filipe, Sílvia, Mariana, Mónica, André, Tiago.
Medito sobre a tua ausência, procuro a pacificação da minha alma, procuro sentir bem-estar e deixar-me levar pela harmonia desse maravilhoso Universo.
Penso em Deus, esse arquitecto capaz de conceber uma beleza tão grande, e feliz, penso que, pelo menos ali, as mãos do homem não chegaram para destruir a perfeição existente.
Penso em ti e agradeço por ter tido o privilégio de te ter tido como filho durante vinte anos. Penso nas coisas boas que vivemos e que ficaram para sempre dentro de mim. Tento também retirar lições de tudo o que vivi. É verdade que sinto a tua ausência é também verdade que essa tua inexistência física me dói na alma , mas aprendi contigo tantas coisas que são tão elementares para eu encontrar a paz e a harmonia que nem sei como te agradecer.
Muitas vezes penso que a minha vida não tem mais norte, sem ti é tudo inútil, tudo sem sentido, porém algo mais forte que todo esse sentimento depressivo, salta de dentro de mim, certamente és tu, e leva-me a olhar o sol e a agradecer a sua luz e o seu calor, a dar valor por poder respirar e andar sem o auxílio de ninguém, a sorrir para as flores, sobretudo os malmequeres que tanto amavas, as borboletas que pairam no campo, por vezes atrevo-me a considerar-te uma dessas maravilhas da natureza. Procuro, então, perceber a importância de estar viva e a felicidade que isso pode representar. Procuro melhorar e ajudar alguém a sorrir e encho-me de energia para poder viver esse dia que de início me parecia cinzento e sem cor.
O engraçado é que, embora reconheça que há dias que passam a preto e branco, com o esforço que faço consigo dar-lhes umas pinceladas, usando umas três cores e não desisto de os pintar com todas as cores do arco-íris.
Por isso olhando as estrelas da janela do meu quarto penso em ti como uma estrela cadente, que está a iluminar o meu caminho e acredito, tenho esperança que um dia eu ainda consiga viver a vida plenamente.