Tudo isto é Fado

sábado, novembro 03, 2007

A indisciplina, sem solução à vista

Sou profesora, sim! E essa profissão, que abracei quando ainda era muito jovem, sempre me agradou, sempre a exerci com muito empenho, entusiasmo e alegria. Que poderá ser mais fascinante que preparar crianças e jovens para um futuro que se deseja seja pleno de sucesso e realização?
Pois é! Já vivi várias reformas, mas tudo me passou ao lado porque gostava demasiado do que fazia para me perder com detalhes.
Mas os tempos mudaram, os anos foram passando e reconheço que a motivação se tornou mais ténue e devo confessar que a paciência tem limites.
Há situações no ensino que ultrapassam tudo o que é normal e razoável.
Eu sei que a escola é o espelho da sociedade e que as crianças, muitas vezes, acabam por aí bramir as suas raivas e a falta de carinho e respeito com que são tratados no seio das suas famílias.
Pois bem, ontem saí da escola muito incomodada, irritada e dizendo para os meus botões que se pudesse me vinha embora e não voltava mais. Tudo isto já deve ter passado pela cabeça de milhares de professores e talvez apenas pelas medidas que a nossa primorosa Tia Lulu tem vindo a tomar. Mas não, nada disso!
Ontem a coisa correu realmente mal. Numa aula tinha perante mim um aluno muito conhecido pelo seu mau comportamento e agressividade. Tenho feito tudo para me relacionar bem com ele, uso de tolerância, compreensão, nunca o confronto porque sei que reaje emocionalmente e desse modo fica incontrolável. Faço um jogo tremendo para captar a sua atenção e motivá-lo para a minha disiciplina. Ora ontem ele esteve sentado na secretária e fez tudo o que lhe apeteceu menos dar ouvidos ao que lhe pedia. Tudo servia para brincar: uma fita adesiva que estava na janela, cortar papelinhos para atirar pela janela, afiar uma esferográfica, cantar mudando a letra para dizendo ordinarices e desenhar. Farta daquele comportamento e, porque não só estava distraído como distraia os outros, optei por mudá-lo de lugar. Mal tinha acabado de se sentar dirigiu palavras bem ordinárias a uma colega, que ecoaram no silêncio da sala. Não tive como ignorar, era urgente tomar uma atitude e fi-lo. Mandei-o para a sala de estudo. Não queria ir e só com a ajuda de uma funcionária oconsegui arrastar até lá. Confesso que nesse percurso tive medo que ele me batesse pois era visivelmente esse o seu desejo.
Depois disto, e ainda não satisfeito, foi à sala de aulas para ir buscar uma esferográfica e bateu com a porta com tão grande violência que esburacou a parede.
E pronto eu só pergunto: o que fazer? Como resolver a situação? Onde está a autoridade? Para que servem as escolas: para ensinar e ajudar a crescer ou para domar feras indomáveis? Qual o papel do professor nestas situações? Quem nos ajuda a resolver de forma satisfatória essas situações? Sou professora, não sou psicóloga, não sou polícia, não tenho obrigação de aturar isto, que acaba por ser um atentado à minha dignidade, quer como pessoa quer como docente.
Quem tiver soluções por favor deixe recado, diga-me alguma coisa, porque eu...bem... eu... sinto-me bloqueada.

1 Comments:

  • At 9:18 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Como eu te compreendo, amiga!
    Também eu me sinto desmotivada com tanta falta de educação e indisciplina!Infelizmente,nas minhas três turmas, debato-me diariamente com situações semelhantes e também me sinto impotente perante certas atitudes e comportamentos que, de ano para ano se agudizam.
    Beijinhos da amiga Alice.

     

Enviar um comentário

<< Home