Tudo isto é Fado

quarta-feira, outubro 05, 2005

Dia do Professor

Hoje, dia do professor, não poderei calar a indignação, a revolta e a dor que sinto dentro de mim. Retiraram-me direitos, transformaram-me em alguém desmotivado, irritado, que trabalha, pela primeira vez, porque precisa de receber um vencimento ao fim do mês. Não mais irei dar horas à escola, não mais irei debruçar-me sobre as impossibilidades dos meus alunos, jamais procurarei encontrar soluções para a ajuda necessária para transporem o insucesso. O governo decretou, cumpra-se! Todos os decretos e leis que nos impuserem têm de ser cumpridos, mas não podem decretar dentro das nossas cabeças nem nos nossos corações. Mudanças são necessárias, atropelos à dignidade, não! Ficar 28 horas dentro de escolas a desempenhar papel de animador cultural ou de preceptora não faz parte das minhas habilitações. Sinto-me desanimada, cansada e ainda agora estamos no início do ano. Olho os meus colegas na sala de professores e vejo o desalento estampado nos seus rostos, muitas vezes queremos uma cadeira para nos sentarmos e não existe, de repente a sala dos professores tornou-se demasiado pequena para tanta gente. Pergunto-me por que motivo todas estas mudanças foram feitas, desta forma, sem, ao menos, verificarem se era possível uma, tão profunda, alteração no sistema, se as escolas tinham as condições necessárias para tal. O vazio instalou-se dentro de nós, estas atitudes do quero, posso e mando, dos nossos actuais governantes, conseguiram, numa simples semana, destruir a motivação e o empenho a milhares de professores! Grande serviço prestado a esta sociedade, sim senhor!
Não posso deixar de referir que, nós somos meros agentes do ensino aprendizagem e que, enquanto os alunos e os seus encarregados de educação não forem responsabilizados, neste processo, jamais poderemos obter o tão almejado sucesso. Esta sociedade está doente! Os valores deixaram de existir, os pais preocupam-se que os filhos passem de ano, mas não têm tempo para lhes dar a atenção que eles necessitam, e tão importante ao seu equilibrado desenvolvimento, nem tão pouco os motivam para a escola. Diz-se que na Finlândia, nos Estados Unidos as coisas são diferentes. E são! Por exemplo, nos Estados Unidos todos os erros cometidos pelos filhos são responsabilidade dos pais, que podem até ser presos de acordo com a gravidade da atitude tomada pelo seu filho. Quanto à Finlândia conheço muito de perto o funcionamento das escolas e terei que dizer: " Ok, Sra Ministra! Eu quero trabalhar como na Finlândia, estou mais horas na escola, sim senhor, mas ganho o dobro, tenho gabinetes para preparar o meu trabalho e todos os alunos estão na escola porque querem aprender, lá não há indisciplina! Saberá a Sra Ministra, por que motivo? Eu cá sei! É que na Finlândia os professores ajudam os alunos a adquirirem conhecimentos, são meros ajudantes e os alunos, esses, são responsáveis pela sua aprendizagem. A sociedade finlandesa, não procura os subsídios como forma de vida, e as famílias têm objectivos e acreditam no futuro. E aqui, Sra Ministra, alguém acredita num futuro à medida dos seus sonhos? Alguém acredita no impossível?"
Teria muito que dizer pois, este assunto não tem fim.
E que me dizem dos APA - Apoio Pedagógico Acrescido? Dantes eram tempos lectivos hoje são não - lectivos, por que motivo? Mão de obra barata? Pois claro! Fomos despromovidos a todos os níveis, e por que razão não reagimos? Para esta pergunta não encontro resposta. Parece-me que a única resposta é esta: nem os sindicatos, nem os professores encontraram argumentos válidos para se manifestarem, talvez, o medo provocado pela intolerância dos actuais governantes nos tenha tolhido, o que é lamentável. Haveria talvez necessidade de menos sindicatos e maior unidade de todos os nós. Não aceitarmos o que nos estão a impôr como um rebanho amedrontado, tomarmos medidas, resistirmos de forma passiva, como se fez numa escola da região, na passada terça - feira, em que os professores se apresentaram vestidos de preto, como forma de luto e luta.
São tantas as coisas e as Aulas de Substituição? Digam-me o que pensam do assunto.
Por favor, companheiras e companheiros de profissão, unamo-nos em defesa dos nossos interesses. É urgente! É imperioso!

10 Comments:

  • At 10:55 da tarde, Blogger Lena Seiça Neves said…

    É isso mesmo. Força irmâ!
    BJ

    Lena

     
  • At 11:01 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Passei e fiquei deliciado com este post. Bem vinda, e bem, ao mundo dos blogs. Espero qeu este pedacinho seja o que te falta no dia a dia pra criares e deixares que a veia da poesia discorra na pena oque sentes.
    Obrigado por partilhares comigo estes momentos preciosos. QUanto aos professores esta tudo dito....nao somos uma classe somos um bando de pessoas ( alguns outros nem tanto) cada qual a puxar para o seu lado. Ninguem compreendeu que lutar pela dignidade de ser professor é algo que nao tem preço no futuro. Assim estaremos sem futuro.....como alguem do "alto" disse " os professores cavam as próprias sepulturas com as suas atitudes". Eu por mim continuo a querer ser digno na minha profissão.
    Beijos

    PS - agora falta o blog fotográfico agarrado a este......;)

     
  • At 12:04 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    I like your blog. Visit mine if you get the chance. Check out who the best web hosting companyis right now. Check it out. Hope to see you later.

     
  • At 11:13 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Olá amiga!
    Adorei os textos e este em particular.
    Enquanto nesta Terra de Luís de Camões, de Fernando Pessoa, de Manuel Alegre ( o poeta e pensador), de Zeca Afonso e de Mário Viegas (um dos maiores actores e encenadores), existirem políticos e gestores a lançando para o ar decisões planificadas entre quantro paredes, longe do Mundo real, nada fará sentido.
    Até porque neste sistema decadente em que tudo, infelizmente, parte do económico para o cultural, a Escola, enquanto instituição que, supostamente devería servir para ajudar os alunos a pensar e abrir as portas do sentido cultural, por forma a que as pessoas se enganem menos, é actualmente um ginantesco laboratório nas mãos dos políticos, os alunos e os professores, meras cobaias condenadas ao insucesso.
    Bom mas a tão apregoada globalização é isto mesmo, ou seja, quanto menos pensar melhor se servirá o regime, o resto são balelas.
    até porque os pais, em casa, em vez de educarem e motivarem os filhos para o saber dando as referências e o princípios culturais, limitam-se a dar o comando da televisão às crinancinhas que, não aprendem, em casa, mais do que o que programas tirados da lixeira Norte Americana lhes incutem no espíro, logo, os alunos chegando à escola, pouco espaço lhes resta nas mentes para aquisição de conhecimento...
    Parabéns pelo blog, continua, tá?
    O Mundo precisa de gente como tu para ir tirando umas pedrinhas no charco de vez em quando.
    Ricardo Pita.

     
  • At 3:29 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    estou totalmente de acordo;devemos lutar pela dignificação da nossa profissão e pelo direito à negociação que nos está a ser retirado.Fátima Soares
    gal@mail.prof2000.pt

     
  • At 3:39 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    esqueci-me de te felicitar pela entrega do manifesto aos senhores inspectores. Parabéns!
    Fátima Soares

     
  • At 5:38 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    A escola deixou de existir. Em vez de espaço alegre, de aprendizagem e de cultura, passou a estar igual ao jardim. Murchou a vida que nela populava, arrastam-se as pessoas tais folhas caídas no Outono do nosso tempo. A escola já não é dos alunos. A escola é pura e simplesmente um espaço Morto. Uma prisão sem grades com com gradeamentos. Estão a assassinar o futuro dos nossos alunos, dos nossos filhos. A assassina tem rosto. Todos sabemos quem é. Vale sempre a pena lutar, nem que seja para que as crianças de agora crescam saudáveis, tenham uma infância feliz. Beijo amiga.

     
  • At 6:22 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    A realidade na minha escola é um pouco diferente. O CE resolveu marcar apenas 20 horas a cada professor. Mesmo assim, já lá vão umas semanas de aulas e, nas minhas 8 horas de trabalho para a escola ainda não fiz nada... Não temos aulas de substituição, e os trabalhos inventados ainda não apareceram. Na escola ao lado não marcaram horas nenhumas. O CE declarou que não tinha nem trabalho, nem condições para reter os profrssores tanto tempo na escola.
    Se aí marcaram 28, no final do mandato do CE façam-lhes a cama, e bem feita porque eles também são responsáveis.

     
  • At 1:29 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    É isso mesmo,
    partilho do teu sentimento de indignação e revolta
    perante esta falta de
    respeito por nós.


    natercia

    natercia_snunes@yahoo.com.br

     
  • At 11:52 da manhã, Blogger Amélia said…

    ...eu sei o porquê do Dia do Professor- mas sabe-me bem saber que nasci nesse dia...será por isso?:)

     

Enviar um comentário

<< Home