Tudo isto é Fado

quarta-feira, outubro 05, 2005

Dia do Professor

Hoje é dia de comemoração, vem mesmo a calhar, pois ainda ontem festejámos o dia do animal. Houve mesmo quem afirmasse que era também o dia do professor. Penso que a sugestão deve ter partido do nosso magnífico, fabuloso, encantador, delicioso, super humano, primeiro.
Falando seriamente a situação está muito má. Sou professora por vocação, não sei fazer mais nada. Lecciono há 32 anos e nunca senti tanta revolta, raiva e indignação. Lembro-me que em miuda o padre, o médico e o professor tinha respeito social, o que não acontece actualmente. Somos, um pouco mais ou menos, tratados como a escória da sociedade, somos acusados do fracasso dos nossos alunos, considerados preguiçosos, faltosos, enfim a escória da sociedade. Vai daí, resolveram trocar as regras do jogo, decidiram que tinhamos que permanecer mais horas na escola, equipararam-nos aos funcionários públicos, e determinaram que nós passariamos todos a ser animadores culturais, educadores de infância de crianças, jovens e adolescentes. Não nos perguntaram nada, não se preocuparam se haveria ou não condições para tais mudanças, apenas determinaram. Eu não consigo entender o que se passa. Nada voltará a ser como dantes, nunca mais as escolas serão um local acgardável para onde iamos com alegria, com motivação e onde ficavamos muitas horas a organizar eventos a trabalhar na realização de projectos, dedicando-nos de alma e coração, tantas vezes, com prejuízo quer para as nossas famílias, quer do ponto de vista económico. Mas adiante isso, certamente, nunca foi contabilizado por ninguém.
Verifiquei que a sociedade aplaudiu estas medidas, ouvi num forum da TSF que estas medidas já deviam ter sido incrementadas há mais tempo. Ouvi, com espanto e tristeza, pais a dizerem que as escolas já deviam ter iniciado a sua actvidade a 1 de Setembro e que as aulas só deveria terminar pelas 7 horas da noite, altura em que se sai dos empregos, e assim já podiam ir buscar os filhos. Bom, eu tenho mesmo que dizer o que tenho entalado na garganta: e se trabalharem por turnos? Que tal nós irmos para a escola durante a noite tomar conta das crianças? Afinal de contas está tudo errado! ERRADO!!!! Estou convicta que o insucesso escolar se deve essencialmente à enorme falta de atenção e carinho com que crescem os nossos alunos e à absoluta falta de regras e responsabilização no processo de aprendizagem dos nossos alunos e seus pais. Ninguém percebe que nós somos apenas um meio, os agentes, que o mais importante é realmente o interesse, apoio e empenhamento dos alunos motivados familiarmente. A escola não faz milagres, não nos compete tomar conta de crianças, compete-nos, isso sim, ajudá-las a crescer de forma saudável e abrir-lhes os camilnhos, transmitindo-lhes as ferramentas necessárias para a sua evolução.
Contudo nós somos responsabilizados por todos os desastres e ainda comparados com o incomparável.
Há alguns anos fiz um projecto em parceria coma Filândia e a Noruega. Tive a oportunidade de ver como funcionavam as escolas naqueles paises e também quanto ganhava cada professor, que tempo dedicava à escola e como eram os alunos. De facto são alunos motivados e professores alegres e bem dispostos. As aulas decorrem somente de manhã, o mais tardar até às duas da tarde. Não há refeições nas escolas e os funcionários quase não existem. Os ordenados são quase o dobro dos nossos e as condições das escolas em nada são semelhantes às nossas. A vida a estrutura social e económica é bem diferente da nossa e por isso não entendo por que razão se tenta fazer a compartação. Quanto a mim acharia excelente que me dessem as condições de trabalho que os filandeses, suecos e noruegueses têm. Eu iria aplaudir. E claro o mesmo ordenado que eles têm.
Bom mas eu quero desabafar o meu desalento, quero dizer que me sinto violentada, pisada, é como se me tivessem usurpado uma parte de mim. Sinto-me triste e infeliz, desmotivada e cansada, e só agora iniciamos o ano.
Não consigo engolir as aulas de Apoio Pedagógico Acrescido como tempos não lectivos, não aceito as aulas de substituição, pelo menos neste moldes. O desalento e o cansaço é visível nos rostos dos meus colegas, pergunto-me como estamos a dar as nossas aulas da tarde depois de uma manhã inteira na escola. Quem não é professor, e embora se diga que a Sra Ministra é professora, pois... universitária e aí, a Sra não mexeu, porque não convinha, não entende o cansaço que representa tantas horas com os alunos. Por que motivo durante mais de cem anos os professores tiveram redução da componente lectiva à medida que os anos passavam? Devia ser porque este trabalho tem custos elevados para os trabalhadores, desgaste a nível do sistema nervoso, entre outros, mas agora decidiram: os professores vão para a escola e ficam por lá o dobro o tempo que estavam nop ano anteriro. Para mim ultrapassa o dobro. Se eu visse que havia vantagens para os alunos eu aceitaria, mas infelizmente nem isso