Tudo isto é Fado

terça-feira, outubro 04, 2005

Dia Mundial dos Animais

Prezo acima de tudo o valor da vida, seja ela, humana, animal ou até vegetal.
Não há muito tempo quase deixei de comer carne, porque passei por uma casa onde se procedia à matança do porco, espectáculo muito popular e que junta tanta gente, mas que me provoca verdadeiros arrepios e desespero. Não consigo entender o prazer que pode dar ver o animal ali a grunhir, amarrado a esvair-se em sangue.
Enquanto me passeava por terras francesas, passei por uma região onde a publicidade ao " foie gras" era imensa, e onde havia muitas quintas com patos e gansos. Quis então saber como era feita a tal pasta, tão apreciada e fiquei simplesmente horrorizada. Os infelizes dos patos nascem apenas para esse fim e desde que nascem que lhes é misturado na comida bagaço, por forma a que o fígado fique cirrótico e assim aumente de volume. Quando está no ponto mata-se o pato e retira-se-lhe o fígado a que se misturam determinados ingredientes, como por exemplo vinho e faz-se o famoso " foie gras". Fico com vómitos e até raiva só de saber isto. É bem verdade que nós precisamos de nos alimentar, também é necessário criar os animais para depois nos servirem de alimento, mas será que é necessário, provocar-lhes doenças só porque alguém um dia descobriu que era bom ao paladar essa pasta? Valha-nos Deus!
As vacas loucas foi mais uma invenção do homem sem escrúpulos só que desta feita a coisa correu mal. Passei pela Holanda onde as temperaturas eram de 2ºC e vi muitas vaquinhas a pastarem. Apercebi-me que elas deveriam ter frio, porque a forma como se defendiam, chamou-me, particularmente a atenção, elas procediam, exactamente, da mesma maneira que os judeus nos campos de concentração nazis. Lembrei-me de uma entrevista, que vi na televisão, onde um judeu explicava: " ... não aguentando com o frio deitavamo-nos, uns por cima dos outros, de forma a que o calor dos nossos corpos não se perdesse ......". Percebo agora o ar triste e desalentado das vacas que pastam por esse mundo afora, mas, mesmo assim, têm mais sorte do que as que estão guardadas em estábulos sem se poderem mexer, a quem cortam os cornos para que caibam no espaço que lhes foi destinado. Essas nem vêm a conhecer o sabor nem o cheiro ou a cor dum prado.
A juntar a tudo isto, temos aí a caça. Abriu e todos os caçadores partiram na busca de perdizes, lebres ou coelhos, o importante é trazer, nas traseiras dos seus automóveis ou jipes, os troféus pendurados e os atrelados com os cães bem estafados. Não gosto da caça como é óbvio, mas até a aceito, desde que dentro de regras e limites razoáveis. Sei que nalgumas regiões do país se tem praticado uma caça tremenda, ao javali. Põem dezenas de cães a perseguir o animal e claro ele não tem qualquer hipótese de defesa. Essa eu acho abominável. Mas o que é mais deplorável é a atitude de certos " senhores caçadores " que simplesmente levam cães, que abandonam, porque já estão velhos e deixam-nos entregues à sua sorte. Quem vai a esses locais e os encontra tristes e escanzelados que tiveram antes um abrigo e comida e que agora aguardam a morte, mas que revelam muito mais dignidade do que aqueles que os abandonaram.
Na entrada do novo milénio é assim que os animais são tratados, é assim que vive o homem, sem escrúpulos nem sentimentos, que quer, acima de tudo, ganhar dinheiro, ainda que seja um dinheiro sujo, e em nome da competitividade e da economia fazem-se as maiores barbaridades.
Numa escola onde trabalhei três anos tive um aluno cuja maior diversão era apanhar passarinhos, fechá-los numa gaiola e esperar pacientemente que eles morressem à fome e à sede. Quando soube de tal coisa pedi ao psicólogo que interviesse junto do jovem, mas receio que a raiz do problema seja bem mais profunda e que quando chegar à vida adulta este futuro homem seja capaz de matar em nome de uma simples diferença de opinião.
Não posso falar de animais sem deixar um testemunho muito carinhoso e ternurento por um cão que pertenceu a um dos meus filhos - o Bock. O Bock era um cão vadio, um puro rafeiro, mas capaz de conquistar o coração mais empedernido do mundo. Era inteligente, carinhoso, brincalhão e encontrava sempre uma forma de fazer aquilo que desejava. Nunca negou as suas origens, por isso, mal a noite caía, ele começava numa choradeira tal, a enlear-se nos nossos pés, de tal forma que, enquanto não lhe fizéssemos o que desejava ninguém o podia aturar. Gostava de ir para a sala e de ficar ali, por vezes eu não queria e mandava-o para a cozinha, mas o safado deitava-se, de barriga para o ar, e só de rastos o conseguíamos tirar da sala.
Um dia o meu filho pôs-se a ensinar o Gorby, um dálmata, a obedecer a ordens. Não era nada com o Bock, mas este seguia atentamente a lição, todo esticadinho no chão. Quando percebeu que se o outro obedecesse às ordens seria recompensado com uma bolacha, não pensou duas vezes, vá de se pôr à frente do outro a sentar-se, a dar a patinha, a deitar-se, coisa que pelos vistos era bem complicada para o Gorby, cão de raça e famoso pela sua inteligência. O Bock sempre soube quem era o seu dono, por isso, quando ele partiu, fiel e pontualmente, todas as sextas - feiras, durante mais de uma ano, ia para a porta esperar o seu dono. Quando anoitecia, chorava e ia deitar-se no seu cantinho. Querem melhor exemplo do que um animal pode fazer e sentir pelo dono? Para mim não é preciso mais.
Para finalizar e porque se trata de um texto sobre animais, não posso terminar sem dizer um grande OBRIGADA PAI pois tu ensinaste-me as estrelas, a poesia e foste um exemplo do respeito pela vida e pelo amor aos animais. Nunca poderei esquecer quando me punhas ovelhinhas bebés no meu colo. O seu cheiro e a sua maciez perduram para além do tempo na minha mente e no meu coração.

6 Comments:

  • At 11:09 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Mãe, aqui estou a estrear os comentários ao teu blog.
    Adorei!
    E sinto-me orgulhosa e muito feliz por fazeres parte da minha vida!
    Amo-te muito mãe!
    Beijo grande

     
  • At 12:09 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Bem vinda ao mundo dos blogs. Espero que esta seja mais uma forma de nos encontrarmos e debater as coisas simples e complexas do mundo. Gostei deste primeiro e fico aguardando muitos mais. Parabens.

     
  • At 12:56 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Gostar de animais é, cada vez mais, perceber outros animais com os quais não nos conseguimos identificar. Os primeiros são dotados de lógica coerente ; os segundos, na sua constante incoerência, deixam-se levar por toda a diversidade onomatopeica facilmente idealizável nos seus rotos discursos demagógicos.
    Quais patos bravos!
    Pena não serem gansos, ainda que o paté não fosse de boa qualidade, pouco importava desde que ficassem de bico calado!
    Parafraseando G. Orwell, nesta quinta todos são iguais, mas uns são mais iguais que outros!

     
  • At 1:48 da manhã, Anonymous Anónimo said…

    Queliditas
    Adorei...adorei...adorei...
    Afinal tu percebes destas coisas de blogs e quejandos!Estás de parabéns! Olha também quero saber!!!...
    Só tenho pena que estejas a festejar o dia dos animais porque hoje (dia 4 ) também era o dia do Professor.
    "Antão"?
    Mas que bem a ser isto esqueceste-te ou quê ? A verdade é que somos uns verdadeiros animais, direi mesmo uma manada de animais não identificados, subservientes,sem rumo...para onde vamos ? Olha vou-me embora porque nem quero saber...
    Bj e continua

     
  • At 10:42 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Querida irmã

    É isso mesmo e muito mais,é ser amiga, é ser mãe, é ser psicóloga, é ser colega,é ter capacidade de improvisar,é saber resolver "just now", é dar colo, é dar ombro, é dar muito e poder muito pouco, perante a impotência de resolver muitas siuações.
    Mas eu adoro ensinar e conviver com aqueles "diabinhos" e quando tudo acaba é muito difícil cortar o cordão "escolar", mas enfim... missão cumprida.
    Gostei muito do poema.
    Continua estou a gostar.
    Bj, bj, bj,bj....
    Lena

     
  • At 10:48 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Queliditas
    Ainda sobre os animais gostaria de te enviar uma fotografia que é sem dúvida um bom exemplo para a raça humana.
    Não sei se dá . vou tentar
    Bj

    Ps: já percebi não dá, manda-me o teu e-mail ok?

     

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